quarta-feira, janeiro 19, 2005

Porquê um sindicato dos informáticos?

Sindicato: s. m., associação de indivíduos de uma classe ou grupo profissional para a defesa dos seus interesses profissionais e económicos. In Priberam Informática - Língua Portuguesa On-Line.

Embora me pareça que não é claro para a maior parte dos jovens o que é o sindicalismo e para que serve, vou abster-me dessa discussão por agora...
A existência de diversos sindicatos deve-se ao facto de cada profissão sofrer de problemas específicos e também de dispor de meios distintos para defendê-los, consoante a união e importância da classe profissional na sociedade.

Qual é o sindicato que representa o nosso grupo profissional e defende os nossos interesses? Existem inúmeros sindicatos onde nos poderíamos incluir, por exemplo o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal ou o Sindicato Nacional de Quadros Técnicos. Mas estes sindicatos representam-nos? Que poder de mobilização temos dentro destes sindicatos para a resolução dos nossos problemas profissionais? Sentimo-nos identificados com os outros profissionais que lhes pertencem? Eu penso que não, e penso que é essa uma das razões pela qual não conheço nenhum informático sindicalizado. A ideia de criar um sindicato dos informáticos é unir uma classe de profissionais que se encontra desunida. Prova disso, é que a proposta de um sindicato dos informáticos suscita a imediata discussão de quem são os informáticos, e entre eles de quem tem o trabalho mais difícil, mais criativo, mais cansativo. Se gastamos as nossas energias nestas discussões é porque não temos problemas maiores que nos afectem. E nesse caso, de facto não faz sentido a criação de um sindicato. Vejamos os sindicatos que existem, Sindicato dos Engenheiros da Região Sul por exemplo, incluí desde Engenheiros Agrónomos a Engenheiros Electrotécnicos. E nós discutimos se faz sentido a criação de um sindicato da classe profissional dos informáticos? Considero que esta necessidade de diferenciação deve-se ao desprestigio social em que a nossa profissão caiu. Hoje em dia, já ninguém é informático. Somos consultores, web designers, administradores de sistema ou de base de dados. Eu penso que no futuro, à medida que a nossa área crescer, surgirão naturalmente os sindicatos de cada especialidade. Por enquanto, gostaria que começássemos por um sindicato com muitos associados que pudesse defender os interesses dos informáticos em geral. No qual eu me visse profissionalmente melhor retratado que nos sindicatos existentes. Um sindicato onde toda a gente percebesse a piada: “Existem 10 tipos de pessoas, as que entendem binário e as que não entendem binário”. A minha definição pessoal de informático é “profissional que trabalha no desenvolvimento ou manutenção de sistemas informáticos”. Quem souber o que é passar um dia inteiro a moer a cabeça para tirar um bug no código e não se considerar um informático, considera-se o quê então? Se conseguíssemos unir um núcleo suficiente de profissionais para constituir um sindicato poder-se-ia considerar mudar o nome para Sindicato dos Profissionais da Área de Informática ou mais pomposamente Sindicato dos Profissionais de Tecnologias de Informação. Mas dada a situação actual, penso que o nome do sindicato e a definição formal de informático são questões de segundo plano. Informático é quem se considerar informático, independentemente da sua especialidade.


segunda-feira, janeiro 17, 2005

Eles fazem o papel deles, nós é que não fazemos o nosso.

Seja patrão, chefe ou director, as pessoas que pressionam os trabalhadores a prescindir dos seus direitos estão a fazer o seu trabalho. Vou entitulá-los de uma forma geral de “gestores”. A sua função é maximizar os lucros das empresas. A maneira menos criativa e retrograda de o conseguir é reduzindo custos com os recursos humanos. O mercado da Informática está em expansão, é rentável, e assenta substancialmente em recursos humanos. Ora, o sonho de qualquer gestor é ter informáticos que trabalhem muito e exijam pouco. Dadas estas condições, a competência na gestão torna-se prescindível e o lucro assegurado, em detrimento da qualidade de vida dos trabalhadores. Acredito que a longo prazo esta política é prejudicial para a economia, uma vez que não estimula o investimento na inovação e a valorização dos trabalhadores como património das empresas. A curto prazo, as empresas que exploram os seus trabalhadores acabam por concorrer deslealmente com outras que não o fazem, criando-se assim um ciclo vicioso em que apenas a exploração dos trabalhadores garante a viabilidade das empresas. Trata-se no fundo de um simples confronto de interesses, os gestores têm a função de maximizar os lucros e os trabalhadores têm de garantir que essa maximização não seja feita à custa. Eles têm feito o seu papel, quando é que vamos começar a fazer o nosso?

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Olha que há sempre alguém para o teu lugar...

A ideia de que existe sempre alguém pronto para entrar para o teu lugar, e que até trabalharia mais com menos regalias, é uma forma de pressão infundada na nossa área. Mas, que tem resultado até agora, tanto que tenho ouvido esta frase dezenas de vezes da boca dos nossos colegas. Haver, há. De facto, ninguém é insubstituível. Só que substituir um trabalhador especializado acarreta grandes encargos para a empresa.

Perder um informático é sempre prejudicial para uma empresa devido à complexidade e diversidade da área. A não ser que a empresa não use computadores. "Alguém" que for pegar no trabalho que foi abandonado, só vai atingir o nível de produtividade da pessoa que foi dispensada quando tiver a sua experiência. Entretanto, a empresa tem de lhe pagar. Existe também um grande factor risco para a empresa, porque embora por vezes se esqueçam, estamos a lidar com pessoas, e não existe nenhuma garantia de que o substituto consiga fazer o trabalho da pessoa que saiu. No caso de um projecto, a perda de uma pessoa numa fase avançada do mesmo, compromete o cumprimento dos prazos estabelecidos, principalmente na área de Informática em que as equipas são normalmente pequenas.

Na fase de integração de um novo trabalhador, que pode ser maior ou menor consoante a complexidade das suas funções, a sua produtividade é zero, logo causa prejuízo à empresa.

Existem áreas em que é muito difícil encontrar emprego e infelizmente essas pessoas sujeitam-se ao que conseguem arranjar.
Mas este não é o caso da Informática, basta abrir o jornal.
Se somos explorados é simplesmente porque deixamos que nos explorem.


Eu nunca ouvi um empresário dizer directamente: "Se quiseres vai-te embora amanhã, tenho cá outro para fazer o teu trabalho". Mas é uma ideia implícita que passa para que nos sujeitemos a tudo. Que passa também através da televisão, dos jornais, dos discursos dos nossos políticos. Cada um de nós tem de se abstrair destas influências e pensar, o que é que acontecia se eu amanhã não viesse trabalhar?

O que é que acontecia se amanhã não viessem trabalhar todos os informáticos?




quinta-feira, janeiro 06, 2005

Debate no gildot

Este assunto foi amplamente discutido no gildot.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

As coisas não mudam, se não as fizermos mudar.

A metodologia de rentabilização das empresas através da exploração dos trabalhadores não é nova e muito menos relacionada com a progressão de carreira dos informáticos.

Estamos numa fase de mudança e estas metodologias de trabalho têm de desaparecer, pois a longo prazo não beneficiam nem os trabalhadores, nem os empresários e nem a economia nacional. Uma vez que é uma politica que nos aproxima de paises que baseiam a sua economia na mão-de-obra barata e explorada como a China e nos afasta de paises com um bom nivel de vida da população como a Suécia que investem na inovação para se imporem no mercado.

Outras profissões quando apareceram também se debateram com os mesmos problemas, até se unirem como classe e reinvidicarem os seus direitos. Os direitos que reinvidicamos para os informáticos são consagrados pela constituição e não são mais, nem menos do que os dos outros trabalhadores. O trabalho mais dificil já foi feito pelos nossos antepassados.

A falta de união da classe faz com que cada um de nós seja explorado individualmente e se sinta impotente, e até mesmo conformado com a sua situação de trabalho, uma vez que a vê reflectida nos seus colegas. Infelizmente, o individualismo é uma caracteristica da nossa profissão.

As coisas não mudam, se não as fizermos mudar.