domingo, março 14, 2010

Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal

A entrevista feita pelo Público a Christophe de Dejours, "Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal", é assustadora. Mostra a pressão que se faz aos trabalhadores, resultando em alguns casos no seu suicídio. O caso da France Télécom é o mais mediático devido aos 25 suicídios noticiados.

Transcrevo dois excertos desta entrevista. Um relatando o treino que alguns gestores de empresa recebem para se tornarem impiedosos com os seus trabalhadores: "Posso contar, por exemplo, o caso de um estágio de formação em França em que, no início, cada um dos 15 participantes, todos eles quadros superiores, recebeu um gatinho. O estágio durou uma semana e, durante essa semana, cada participante tinha de tomar conta do seu gatinho. Como é óbvio, as pessoas afeiçoaram-se ao seu gato, cada um falava do seu gato durante as reuniões, etc.. E, no fim do estágio, o director do estágio deu a todos a ordem de… matar o seu gato. ".

O segundo excerto descreve o mercado de trabalho do Japão, onde até existe uma palavra para descrever a morte por excesso de trabalho (karōshi). "É uma morte súbita, geralmente por hemorragia cerebral (AVC), de pessoas novas que não apresentam qualquer factor de risco cardiovascular. Não são obesos, não sofrem de hipertensão, não têm níveis de colesterol elevados, não são diabéticos, não fumam, não são alcoólicos, não tem uma história familiar de AVC. Nada. A único factor que é possível detectar é o excesso de trabalho. Estas pessoas trabalham mais de 70 horas por semana, sem contar as horas passadas nos círculos de qualidade. Ou seja, são pessoas que estão literalmente sempre a trabalhar. Mal param de trabalhar, vão dormir. As descrições de colegas que foram fazer inquéritos no Japão são aterrorizadoras.

O mundo do trabalho no Japão é alucinante. Há raparigas que entram nas fábricas de electrónica, por exemplo, e que são utilizadas entre os 18 e os 21 anos – porque aos 21 anos, já não conseguem aguentar as cadências de trabalho."