segunda-feira, janeiro 17, 2005

Eles fazem o papel deles, nós é que não fazemos o nosso.

Seja patrão, chefe ou director, as pessoas que pressionam os trabalhadores a prescindir dos seus direitos estão a fazer o seu trabalho. Vou entitulá-los de uma forma geral de “gestores”. A sua função é maximizar os lucros das empresas. A maneira menos criativa e retrograda de o conseguir é reduzindo custos com os recursos humanos. O mercado da Informática está em expansão, é rentável, e assenta substancialmente em recursos humanos. Ora, o sonho de qualquer gestor é ter informáticos que trabalhem muito e exijam pouco. Dadas estas condições, a competência na gestão torna-se prescindível e o lucro assegurado, em detrimento da qualidade de vida dos trabalhadores. Acredito que a longo prazo esta política é prejudicial para a economia, uma vez que não estimula o investimento na inovação e a valorização dos trabalhadores como património das empresas. A curto prazo, as empresas que exploram os seus trabalhadores acabam por concorrer deslealmente com outras que não o fazem, criando-se assim um ciclo vicioso em que apenas a exploração dos trabalhadores garante a viabilidade das empresas. Trata-se no fundo de um simples confronto de interesses, os gestores têm a função de maximizar os lucros e os trabalhadores têm de garantir que essa maximização não seja feita à custa. Eles têm feito o seu papel, quando é que vamos começar a fazer o nosso?

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O blog é, ainda, insipiente. Mas interessante, apesar de tudo, que alguma forma de organização, com um discurso ponderado e articulado, surja em defesa dos desgraçados "informáticos" (termo demasiado lato, como se percebe pela discussão que gera).

De recordar, no entanto, que esta é uma desgraça relativa, pois em poucas classes profissionais se assistiu a uma ascenção tão brutal, quanto a que aqui se verificou, de gente tão nova a lugares de tão grande responsabilidade e benefícios quase impúdicos (declarados ou não).

Muitas vezes com um elevado grau de impreparação, que não técnico, mas moral, ético e de formação, que se consegue com o peso dos anos, não com a genialidade do código batido.

A credibilidade advém da profunda consciência dos deveres, que deve suportar a indispensável luta pelos direitos.

Força, que cá estaremos para ajudar com o empurrão possível.

3:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Infelizmente o sector dos recursos humanos aliou-se aos "gestores" referidos, pelo que as pessoas deixaram de contar como tal mas como produtoras de números. A situação não será idêntica em todas as empresas mas mesmo aquelas que se dizem "jovens" e com conceitos (supostamente) inovadores pecam neste aspecto da relação profissional. Processos e procedimentos pouco adequados à realidade são o nosso dia-a-dia, mas acabam por ser naturais para pessoas que fazem avaliações com base em tabelas de excel.. Esquecem-se (ou não sabem ou não querem saber) de que um trabalhador com um ambiente estável, onde o seu input tem um significado real, é infinitamente mais produtivo e proactivo do que aquele que chega cheio de vontade a uma empresa para rapidamente chegar à conclusão de que, simplesmente, não vale a pena, se as coisas mudarem "não vai ser por mim". E assim este País, cada vez menos apelativo para jovens que ambicionam concretizar as suas ideias e projectos, vai-se enterrando em velhos hábitos de "estatutos" e "tachos".

Penso que pela omnipresença da informática na vida da sociedade, já faz falta um orgão que defenda os direitos dos trabalhadores nesta área. E espero que este pequeno começo, este singelo blog, seja um ponto de partida para um verdadeiro sindicato.

Passo nº1: passar para uma plataforma mais credível que não o Blogger.. Fomentar a troca de ideias em fóruns. Reunir assinaturas e aprovar estatutos. Avançar para a oficialização de um sindicato. Caso contrário, não passará de desabafos atirados para o vento...

7:32 da tarde  
Blogger JF said...

Quando aqui se diz que nenhuma classe de profissionais teve uma ascensão tão "brutal": bem, a introdução de meios informáticos no suporte à actividade das empresas pode levar a enormes ganhos de produtividade dessas mesmas empresas, quando esses meios são usados de forma correcta. Nunca se viu gente tão nova em lugares de tão grande responsabilidade, pois porque nunca se tinha visto gente tão nova tão importante para essas empresas, provavelmente.
Em relação ao estado de coisas, aquilo que se assiste na minha opinião é a desregulamentação total, é o desrespeito generalizado pelo trabalho dos profissionais de informática, isto a todos os níveis. Desde as condições contractuais e laborais já descritas noutros comentários, em que, por exemplo, é assumido que as horas extraordinárias são uma normalidade, mas passando também pelo atropelar dos direitos de autor sobre programas e livros.
Um sindicato parece-me importante, mas é preciso muito mais do que isso; é necessário aquilo que se poderia classificar como um código deontológico dos profissionais de informática, em que ficasse claro quais os comportamentos que são inadmissíveis, como aquilo que não deve e não pode ser aceite pelos profissionais.

10:52 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Concordo inteiramente com todos os comentários até agora, principalmente com o do José Fernandes.

Existe um enorme desrespeito pelas condições de trabalho que tenho visto e que no passado estive sujeito, desde horários sem qualquer regra a remunerações muito flutuantes dependendo da percepção de quem paga.

É importante regularizar-se o mercado de trabalho, definindo as responsabilidades e os critérios de qualidade e produtividade que cada profissional deve cumprir. É importante termos todos consideração uns pelos outros, respeitando os conhecimentos e experiência de quem trabalha no que gosta e por isso se empenha a fundo, sem que o indicador de produtividade seja medido pelas horas de trabalho diário mas pelos objectivos atingidos (dentro de parâmetros claramente estabelecidos).

E algo que ainda ninguém mencionou, é preciso "educar" os gestores portugueses para os conceitos básicos (e mínimos) das Tecnologias e Sistemas de Informação: não é só por se apagar fogueiras que teimam em aparecer à última de hora que se consegue operar o "milagre" de extinguir um "incêndio". Falo das alturas em que se exige a um "informático" que resolva um problema JÁ quando nem se tem consciência das implicações e impactos que lhe estão associados. De uma vez por todas, que se entenda que trabalhar com Tecnologias e Sistemas de Informação não é mesma coisa que uma indústria de produção automatizada. Os métodos "antigos" não se aplicam e não são adequados para gerir a "produção informática".

Muito deste problema que designo de "falta de conhecimento para gerir" também vêm de muitos dos profissionais informáticos com quem tenho contactado não entenderem ou não se preocuparem minimamente com questões fundamentais: boas práticas, metodologias actuais, qualidade de programação, etc. Muitos são hoje "heróis" do momento que apagam uma "fogueira" de dimensão razoável para amanhã serem vistos de forma negativa porque não corresponderam às expectativas que eles próprios ajudaram a criar (e falo por experiência própria).

Certamente que muitos serão os testemunhos, e realmente isso só demonstra haver uma cada vez maior necessidade de "normalizar" e "regularizar" este sector profissional na empresas em Portugal. Será que existe a coragem necessária de "inovar" para o bem comum de todos?

2:42 da tarde  

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