domingo, dezembro 05, 2010

Pagam sempre os mesmos

PS, PSD e CDS votaram contra a proposta do PCP para tributar dividendos distribuídos antecipadamente por algumas empresas tal como a PT, Portucel, Jerónimo Martins e Semapa. O objectivo destas empresas é unicamente não pagar impostos. O Primeiro-ministro e o ministro das finanças esperavam que estas empresas não fugissem à sua obrigação social, principalmente num período de crise que afecta tantas pessoas. Contudo, verificando agora que o caminho traçado por estas empresas é o da fuga fiscal, nada fizeram para o contrariar. Aliás votaram contra a proposta do PCP e não apresentaram nenhuma alternativa.
Foram vários os deputados socialistas que se solidarizaram com esta proposta. "Não é ilegal, mas é uma clara manifestação de falta de solidariedade nacional. Sobretudo porque a PT só teve esses dividendos devido à intervenção do governo através da golden share", disse o deputado socialista Eduardo Cabrita. O líder parlamentar do PS, Francisco Assis, até ameaçou que se demitiria da liderança do grupo parlamentar caso a maioria dos deputados decidisse votar a favor do diploma do PCP. Mal vai esta democracia.
A justificação mais repetida e deveras brilhante que ouvi para que estas empresas não paguem impostos, foi que elas precisam de dinheiro para investir e criar mais emprego. Já pagam muitos impostos. E as pessoas não pagam muitos impostos? Deviam pensar que se os trabalhadores não tiverem dinheiro, não compram e logo as empresas não vendem. Se não vendem, os seus lucros decrescem e o mais provável é despedirem pessoas. Não é por acaso que vamos entrar em recessão no próximo ano. Os sacrifícios têm de ser repartidos por todos e todos concordam com este postulado. Infelizmente os nossos líderes mostram uma opinião diferente na hora da verdade.

quarta-feira, novembro 24, 2010

Porque faço greve?

Porque faço greve? Faço para exigir respeito pelos trabalhadores. Faço para mostrar o meu descontentamento. Faço para mostrar que não concordo com a redução de salários em 5% e aumento de 2% no IVA. Para mostrar que não concordo com todos os cortes que foram feitos na educação e saúde. Compreendo que é necessário um esforço para ajudar o país, mas este tem de ser repartido por todos. Porque continuam a espremer cada vez mais os trabalhadores e permitem avultadas fugas de impostas a grandes empresas? Vejam o caso da PT, Portucel e Jerónimo Martins que vão antecipar o pagamento de dividendos para não pagar impostos. Porque não criam legislação para evitar isto? Porque é que a PT não pagou os 570 milhões de euros de impostos sobre a venda da Vivo. Porque é permitido que as empresas tenham sede em países como a Holanda para terem as isenções fiscais desses países e não pagarem impostos sobre os lucros nos países de origem. Porque é que a lei está cheia de buracos fiscais aprovados pelos sucessivos governos que beneficiam os grupos económicos? Porque é que os bancos como o BES, BCP e BPI pagaram menos 30%, 58% e 108.5% de impostos, apesar de terem subido os lucros em 12.4%, 22% e 10.8%, respectivamente? Porque é que os bancos pagam uma taxa de IRC entre 5% e 15% e as empresas 25%? Isto faz algum sentido? Foram os bancos que originaram esta crise e ainda são beneficiados!
Mas o meu descontentamento estende-se à maior percentagem de desemprego de sempre em Portugal de 10.9%. O desemprego afecta 609 mil portugueses. E muitos dos que têm emprego são com contratos a recibo verde ou através de empresas de recursos humanos para que possam ser despedidos de um dia para o outro sem qualquer justificação. Contudo, o pior de tudo é ver que o país vai sem direcção. Os nossos políticos conseguiram que Portugal tivesse o terceiro menor crescimento económico do mundo na última década (6,47%), ganhando apenas à Itália (2,43%) e ao Haiti (-2,39%), numa lista de 180 países publicada pelo El País com base em dados do FMI. Porque é que estes políticos não são responsabilizados criminalmente por má gestão? Era difícil fazer pior!
Estas são algumas das minhas razões para fazer greve. Acredito que se todos os que criticam este governo fizessem greve, hoje poderíamos mudar algumas destas injustiças.

domingo, novembro 14, 2010

A Google dá um aumento de 10% e um prémio de $1000 aos empregados

Há algum tempo atrás escrevi um pequeno texto sobre a Cultura Google. Quero agora acrescentar que a Google continua a surpreender por ter dado aos seus empregados um aumento de 10%, um prémio de 1000 dólares já com os impostos pagos e ainda aumentos dependentes do mérito. Bondade, reconhecimento, marketing ou estratégia de gestão são algumas das possíveis causas desta decisão. Seja qual for, a Google  lidera no mercado de trabalho.

sexta-feira, setembro 17, 2010

Concertação de salários nos EUA

Companhias como a Google Inc., Apple Inc., Intel Corp., Adobe Systems Inc., Intuit Inc. e Walt Disney Co. unit Pixar Animation, foram acusadas pelo Departamento de Justiça dos EUA de terem um acordo para não “roubar” empregados entre elas. Foi provado que este acordo prejudicou os empregados de terem melhores trabalhos ou melhores condições. Falta saber se o caso irá a tribunal ou se haverá um acordo com o Departamento de Justiça.

quinta-feira, abril 01, 2010

Patrões têm baixas qualificações

O Instituto Nacional de Estatística de Portugal  identificou que 81 por cento dos patrões tinham como nível de instrução o ensino primário ou o secundário inferior (o que se pode considerar como baixas qualificações), 10 por cento tinham o secundário superior e 9 por cento o ensino superior.

"A formação escolar dos empregadores portugueses é substancialmente inferior à da população empregada, e também à dos seus colegas espanhóis e à da média dos empregadores dos 27 Estados-membros da União Europeia, segundo dados relativos a 2008."


domingo, março 14, 2010

Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal

A entrevista feita pelo Público a Christophe de Dejours, "Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal", é assustadora. Mostra a pressão que se faz aos trabalhadores, resultando em alguns casos no seu suicídio. O caso da France Télécom é o mais mediático devido aos 25 suicídios noticiados.

Transcrevo dois excertos desta entrevista. Um relatando o treino que alguns gestores de empresa recebem para se tornarem impiedosos com os seus trabalhadores: "Posso contar, por exemplo, o caso de um estágio de formação em França em que, no início, cada um dos 15 participantes, todos eles quadros superiores, recebeu um gatinho. O estágio durou uma semana e, durante essa semana, cada participante tinha de tomar conta do seu gatinho. Como é óbvio, as pessoas afeiçoaram-se ao seu gato, cada um falava do seu gato durante as reuniões, etc.. E, no fim do estágio, o director do estágio deu a todos a ordem de… matar o seu gato. ".

O segundo excerto descreve o mercado de trabalho do Japão, onde até existe uma palavra para descrever a morte por excesso de trabalho (karōshi). "É uma morte súbita, geralmente por hemorragia cerebral (AVC), de pessoas novas que não apresentam qualquer factor de risco cardiovascular. Não são obesos, não sofrem de hipertensão, não têm níveis de colesterol elevados, não são diabéticos, não fumam, não são alcoólicos, não tem uma história familiar de AVC. Nada. A único factor que é possível detectar é o excesso de trabalho. Estas pessoas trabalham mais de 70 horas por semana, sem contar as horas passadas nos círculos de qualidade. Ou seja, são pessoas que estão literalmente sempre a trabalhar. Mal param de trabalhar, vão dormir. As descrições de colegas que foram fazer inquéritos no Japão são aterrorizadoras.

O mundo do trabalho no Japão é alucinante. Há raparigas que entram nas fábricas de electrónica, por exemplo, e que são utilizadas entre os 18 e os 21 anos – porque aos 21 anos, já não conseguem aguentar as cadências de trabalho."

domingo, agosto 23, 2009

Cultura Google

Este vídeo da CNN mostra um pouco da cultura empresarial da Google. O livro The Google Story de David A. Vise, detalha ainda mais esta cultura com pormenores fascinantes. Sintetizando bastante, a Google segue as ideias dos seus fundadores, Larry Page e Sergey Brin, que conseguiram manter o ambiente académico na empresa que criaram.

Primeiro, a Google escolhe os melhores para trabalhar. Parece óbvio, muito óbvio, mas a maior parte das nossas empresas prefere contratar trabalhadores baratos. Segundo, a Google oferece-lhes todas as condições para se sentirem na empresa como em casa. Espaços de lazer misturam-se com espaços para trabalhar, conversar e discutir ideias. Estes espaços de trabalho fomentam a produtividade e a criatividade. Nas nossas empresas a criatividade é relegada para segundo plano. Terceiro, uma percentagem do tempo do trabalhador pode ser investido a desenvolver ideias e projectos próprios para a Google. Em caso de sucesso o trabalhador receberá parte dos lucros. Isto faz com que o trabalhador invista todo o seu potencial a fazer algo que gosta, sentindo-se motivado e valorizado. Lembro que o Gmail surgiu como um destes projectos pessoais. Impensável fazer isto em Portugal. Quarto, os projectos nascem num ambiente de investigação, sendo realmente únicos. Quem não gosta de criar projectos state-of-the-art? E quem não gosta de receber lucros de projectos state-of-the-art? Gostava de ver esta cultura de investigação em Portugal, talvez quando perceberem que as apostas a curto prazo também geram lucros a curto prazo.